Projecto âncora
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Cartas à minha avó: dezembro 2007

18 dezembro, 2007

Doce de abóbora com nozes e chá de canela

Naquele dia tínhamos combinado que ia a tua casa com o meu pequeno. Eu não sabia o caminho, deste-me as coordenadas e lá fui eu na minha casquinha de noz enferrujada. Inesperada a fila de 45 minutos na A5. Inesperada a chuva torrencial que caía a cântaros a meio de Agosto e o vento forte que de início me assustou. Inesperada a névoa no meu pára-brisas que me impedia de ver bem o caminho. Inesperado o atraso e os nervos, que eu gosto de ser pontual e não me fazer esperar.
Lá me foram buscar no sítio combinado. Saí do carro em torvelinho, despenteada e mesmo cansada, mas satisfeita por cumprir o prometido há já tanto tempo. Ansiosa por vos ver, às duas meninas da casa, de estar contigo, falar, de sorver um pouco dessa força que sempre me transmites quando estamos juntas (mesmo às vezes sem ser fisicamente). Tinha prometido a ti e a mim que ia, não estabeleci datas, mas sabia que tinha de ir. Finalmente, cheguei. E o tempo que estive com vocês pareceu-me passar tão rápido que por mim tinha ficado horas infindáveis à conversa sem preocupação de voltar para casa. O meu filho a brincar deliciado com o teu, que dotado de uma paciência de irmão mais velho, lhe explicava como funcionavam os brinquedos. O entusiasmo do meu, que só dizia «Olha mamã, esta casa de banho tem peixinhos!». Senti-me bem no vosso espaço. Senti-me muito bem na vossa companhia. E aquela tarde invernosa de Agosto soube-me a doce de abóbora com nozes e chá de canela - quente, adocicada e com um toque de especiarias.
Confesso, fui-me embora a contra-gosto qual criança obrigada a ir para a cama a meio da brincadeira. Custou-me o regresso, mas ao mesmo tempo parti a sorrir, ansiosa pelo nosso próximo encontro.