Projecto âncora
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Cartas à minha avó: 8 de Setembro de 1990

22 junho, 2006

8 de Setembro de 1990

Esta é a data da tua partida. 16 anos, avó, 16! Que nos separam no tempo e no espaço mas nunca no coração, no coração estás cada vez mais inteira, cada vez mais cravada em mim, cada vez mais presente. Era uma criança de 12 anos. Cresci. Tenho 28, sou mulher e mãe, avó, vê no que me tornei. Tinha tantos sonhos, tantas ambições que foram ficando pelo caminho. Inventei outros, os possíveis, aqueles pelos quais consegui lutar. Sou feliz, acho que sou.
Tinha 12 anos, tenho 28. Mais de metade da minha vida foi vivida sem ti. Mas sei onde estás, estás aqui, sempre comigo. É a ti que rezo, és o meu deus, a minha fé. Omnipresente. Sinto tantas vezes que eu sou tu em mim, que sou como tu já foste, apesar de saber que somos distintas. É uma sensação tão estranha e tão boa, sentir e saber que vives em mim, que te penso, que te sinto, que te recordo traços, a voz, as mãos, o riso que ainda me inunda os ouvidos quando me concentro um pouco para te deixar entrar.
Naquela altura percorri os caminhos do medo, da solidão, da tristeza calada que não ousei partilhar com ninguém. Nem com a minha mãe, nem pai nem irmã. Senti-me sozinha, como se o meu sol se apagasse. Renasceste em mim não tardou muito, senti-te chegar, instalares-te nas fundações da minha alma, ocupares o lugar de onde, no fundo, nunca saíste. Assim é o tempo. Obrigada por teres vindo.