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Cartas à minha avó: Diferentes

28 junho, 2006

Diferentes

Diferentes. Em quase tudo. Especialmente na maneira de ver a vida. O que nos juntou? Sem dúvida a maneira de senti-la.
Vivo com uma pessoa que é o meu oposto em quase tudo: e eu digo branco ele diz preto, se eu digo sim ele diz não, se eu digo direita ele diz esquerda. É trabalhoso e, muitas vezes, cansativo, viver a minha vida assim. Contudo, uma coisa de que eu não me posso queixar é de que a minha vida seja monótona, como tu tão bem disseste no outro dia.
A nossa vida não é um lago de águas paradas, é um mar revolto e muitas vezes tempestuoso que se agita ao sabor das marés. É um movimento contínuo, um atrito constante, uma história de cedências e declarações de guerra/paz a cada momento. É uma luta que não acaba nunca, com pormenores de rebuscada mesquinhez e casmurrice aqui e ali. Somos infantis, por vezes, somos teimosos, orgulhosos, insubordinados. Muitas vezes esquecemo-nos do companheirismo, da cortesia, às vezes até da educação. Mas nunca nos esquecemos um do outro. Nunca. Por muito virados do avesso que estejamos, por muito magoados, por muito que ameacemos bater com a porta. Por muito que tenhamos sonhado a nossa vida diferentemente, por muitos sonhos que tenhamos deitado por terra. Nunca nos esquecemos um do outro.
Por mais que pense ainda não consigo chegar a uma conclusão acerca dos motivos para estarmos juntos. Serão necessários motivos? Acho que não. Tudo reside no facto de as nossas cabeças raramente se cruzarem, mas dos nossos corações baterem em uníssono. Terá sido o amor feito para ser pensado?
Eu amo com o coração e não com a cabeça. Não racionalizo, sinto. E a sentir somos iguaizinhos, tirados do mesmo saco. Acho que é por isso que ainda estamos juntos.