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Cartas à minha avó: Sonhei contigo

19 julho, 2006

Sonhei contigo

Sonhei contigo. Estavas rodeado de gente, estavas com uma expressão leve, feliz, de quem está de bem com a vida e com a morte. Sereno. Encostaste a tua mão à minha cara, deste-me um beijo em cada lado do rosto e perguntaste se eu estava bem, como sempre fazias. Depois, disseste muito calmamente e a sorrir «Tu vois, je suis revenu».
Estremeci, acordei estremunhada. Olhei para o despertador. Eram 3.30 da manhã. O meu marido dormia, o meu filho também.
«Tu vois, je suis revenu» martela-me no pensamento desde essa hora. Voltaste, como se apenas partiste em Março? Já voltaste? Porquê em francês, seria um recado?
A pele do teu rosto estava mais brilhante, estavas mais bonito desde a última vez que te vi, inanimado, sem a expressão amena e familiar que era a tua. Foste uma das pessoas que mais me custou que soltasse amarras. Levaste um pouco da minha infância contigo. Tu, o tio Silvério, o primo Lourenço, a minha avó.
Há mais uma mão cheia de gente por quem nutro um carinho infantil. Ainda cá estão, mas sei que vão açambarcar o pouco que ainda resta da minha primeira infância quando partirem.
Que estejas bem, é o que te desejo. Não te temo nem te anseio, se quiseres continuar a visitar-me em sonhos sê benvindo, a porta está aberta para entrares. Amar, amar. Há ir e voltar...

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

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8:49 da tarde  

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