Gostava de saber
Gostava de saber pintar. É um dos sonhos que guardo no baú das coisas inconcretizáveis, mais uma coisa a resolver na próxima encarnação.
Admiro muito quem consegue passar sentimentos, emoções, medos para uma tela vazia. Para mim é um processo cheio de magia, cheio de encantamento, cheio de pózinhos de perlim-pim-pim, que me transcende, que me emociona.
Lentamente as cores vão tomando os seus lugares, os pincéis agitam-se no ar como que em duelo, as ideias vão perfilando umas atrás das outras. E a obra nasce, grandiosa, qual quimera saída das mãos de um alquimista.
A minha mãe e a minha irmã têm este dom. A mim restam-me as palavras e os trabalhos de agulha de que tanto gosto. Trabalhos de velhinha, como gosto de dizer. Que dão cabo da vista, mas um gozo tremendo e um aconchego grande à alma. Até nisto saio a ti, avó!
É com comoção que abro os braços e o coração para receber um quadro de alguém muito especial. Alguém que tem medo de não saber pintar para mim, medo de defraudar as possíveis expectativas que possa criar em relação à sua obra. A essa pessoa digo, com a maior sinceridade possível e SEM GUARDAS, como ela, um dia, me disse a mim:
Pinta sem medo, aquilo que sentires. Não te preocupes com o objectivo, frui a pintura como um processo em crescendo, não castres a imaginação ao pensares para que se destina. Mais uma vez, o importante não é o caminho, o importante é caminhar. Podes andar de encontro ao objectivo em linha recta, sem nunca perder o objectivo de vista. Mas o melhor, o melhor mesmo e o mais saboroso, é caminhar e parar um pouco para apreciar a paisagem. Aprecia a paisagem, amiga, que eu cá estarei para apreciar o quadro dessa viagem.
Se te ajuda deixo-te algumas dicas: se fosse um animal seria um gato, pela elegância, mistério e independência. Se fosse um número seria o 7 pela superstição que me transmite, ou o 3, número da criação. Se fosse uma cor seria vermelho ou laranja, pelo calor que me trazem. Se fosse um elemento seria água, pela imensidão que trasmite. Se fosse um meio de transporte seria um barco, para velejar sem fronteiras. Se fosse um livro seria o "Sidharta Gautama". Se fosse uma música seria o "Love's Divine" , do Seal ou o "Luka", da Suzanne Vega. Se fosse uma voz, certamente seria a voz mais doce que conheço, a da Suzanne Vega! Se fosse um poeta seria o Fernando Pessoa pela inteligência, mais a virar para o Alberto Caeiro pela simplicidade de ver a vida. Se fosse um escritor seria o Eça de Queiroz ela genialidade. Se fosse uma paisagem, seria uma seara a ondular ao vento num fim de tarde de Verão. Se fosse um cheiro seria o cheiro da terra molhada ou da relva acabada de cortar. Se fosse, se fosse, se fosse... Se fosse a ti pintava sem te preocupares comigo, que eu escrevo a pensar em ti mas também não escrevo a pensar apenas nas coisas que vais gostar de ler.
Mãos à obra, minha querida!
1 Comments:
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