Acertar agulhas
Acertar agulhas. É como me sinto quando faço malha. Acertar as agulhas da alma, afinar o mecanismo obtuso da cabeça. Sou agulho-dependente. (Mas detesto agulhas daquelas das vacinas. Temo-as, tenho-lhes fobia.).
Estas são agulhas amigas, que firmemente seguro nas mãos, com tanto carinho, que agito em círculos frenéticos, que tecem os fios da minha vida. E o trabalho vai saindo, inteiro, das minhas mãos pequenas e finas e digo «Fui eu que fiz». Mentira, foram elas, eu fui só o maestro que orquestrou a sinfonia.
Faço malha desavergonhadamente no metro, no barco, perante o olhar incrédulo dos outros passageiros. Apetece-me dizer «O que foi, nunca viram?». Retenho-me. Percebo perfeitamente a estranheza que provoco nos outros. Hoje em dia tudo o que fuja ao convencional é, no mínimo, estranho, senão grotesco.
Concentro-me. Meia, liga, troca de cor, mais uma laçada. Inspiro, expiro. Mais uma volta. Aos que se cruzam digo, mentalmente «No meu tempo mando eu, metam-se na vossa vida». Continuo, agarrada a elas qual vício que não se consegue largar.
2 Comments:
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