Ando muda
Ando muda, emocionada, com a alma embargada e tolhida, sem conseguir pôr as ideias em fila indiana, sem conseguir passá-las para o papel ou para o teclado, sem conseguir degluti-las em mim, decantá-las. Carrego-as todos os dias, comigo, para todo o lado, mas não consigo dar-lhes a forma que quero, não consigo libertá-las de mim como acho que merecem.
E o que me emudece, e me tolhe e me comove é como é que eu, EU, sou mãe de um menino de dois anos. Para onde foi aquele bebé de cabelo no ar que dizia "aglhi" e "abú" e pouco mais, que ao chorar fazia "lá, lááááá..."? Para onde foram aquelas mãozinhas minúsculas, que agora se transformaram em mãozinhas sapudas de menino que agarram, que batem, que dão festinhas? Assim, do dia para a noite, transformei-me em mãe de um rapazinho de dois anos que deixou de caber todo no meu colo, que vai comigo pela mão a qualquer lado, que me diz "Mãe, o que foi?" quando me vê mais em baixo ou "Não chola" e "Não guita" quando me irrito. Filho, como cresceste! Como em dois anos um ser tão pequenino e tão indefeso se transforma numa pessoa cheia de vontades. Filho, como cresceste! E eu continuo meio aturdida a assistir ao teu crescimento sem conseguir exprimir o quanto me comove, o quanto me orgulha. Com a certeza de que gosto infinitamente mais de ti agora do que há dois anos.