Projecto âncora
âncora
Cartas à minha avó: junho 2007

28 junho, 2007

Ando muda

Ando muda, emocionada, com a alma embargada e tolhida, sem conseguir pôr as ideias em fila indiana, sem conseguir passá-las para o papel ou para o teclado, sem conseguir degluti-las em mim, decantá-las. Carrego-as todos os dias, comigo, para todo o lado, mas não consigo dar-lhes a forma que quero, não consigo libertá-las de mim como acho que merecem.
E o que me emudece, e me tolhe e me comove é como é que eu, EU, sou mãe de um menino de dois anos. Para onde foi aquele bebé de cabelo no ar que dizia "aglhi" e "abú" e pouco mais, que ao chorar fazia "lá, lááááá..."? Para onde foram aquelas mãozinhas minúsculas, que agora se transformaram em mãozinhas sapudas de menino que agarram, que batem, que dão festinhas? Assim, do dia para a noite, transformei-me em mãe de um rapazinho de dois anos que deixou de caber todo no meu colo, que vai comigo pela mão a qualquer lado, que me diz "Mãe, o que foi?" quando me vê mais em baixo ou "Não chola" e "Não guita" quando me irrito. Filho, como cresceste! Como em dois anos um ser tão pequenino e tão indefeso se transforma numa pessoa cheia de vontades. Filho, como cresceste! E eu continuo meio aturdida a assistir ao teu crescimento sem conseguir exprimir o quanto me comove, o quanto me orgulha. Com a certeza de que gosto infinitamente mais de ti agora do que há dois anos.

As almas são como os timbres

As almas são como os timbres: não se encontram duas iguais. Perante uma viragem rerpentina (mas há tanto tempo esperada) nas nossas vidas dou-me conta, uma vez mais, de como somos diferentes um do outro. De como tu extravasas o nervosismo e encontras maneiras de dar a volta à situação. De como eu sofro para dentro e tudo me dói, a barriga às voltas, o aperto no peito, o nó na garganta. Como se fosse eu. Mas é contigo. E quase me ofendo quando me repreendes e me dizes que não tenho de estar assim, que é uma estupidez, que tudo passa e que tu é que sabes. Pois, mas estamos juntos no mesmo barco, esqueces-te. Comemos na mesma mesa. Dormimos na mesma cama.
Por outro lado, um problema de saúde seria bem pior e pensando assim até me sinto relativamente bem. Somos jovens, temos braços para trabalhar, tudo o resto é pormenor. Confio que tudo irá melhorar e que as perspectivas que agora se abrem para ti serão muito melhores do que as que tiveste até agora. Que mereces mais, com toda a certeza. Mas até ao desfecho deste episódio permite-me, ao menos, a angústia da incerteza. Sinto que estamos a mudar para melhor, mas mesmo assim todas as mudanças doem.

04 junho, 2007

Diz-me quem és...

Diz-me quem és...